Reino Unido: 2/3 dos eleitores reelegem conservadores e esquecem sistema de saúde

maio 07, 2015.

As eleições gerais para a Câmara Baixa do Parlamento britânico uma vez mais serviram para desmoralizar os institutos de pesquisa que até a undécima hora afirmavam que havia um equilíbrio total entre conservadores e trabalhistas, o que tornaria inevitável um governo de coalizão. Abertas as urnas, eis que o Partido Conservador (PC) com 11,3 milhões de votos obteve 331 cadeiras na Câmara Baixa, mais do que a maioria exigida (323 deputados) para governar sozinho. O Partido Trabalhista (PT) obteve 9,3 milhões de sufrágios ficando com 232 cadeiras. Seguiram-se os Liberais Democratas com 2,4 milhões e 8 deputados; o Partido Nacional Escocês (SNP) com 1,45 milhão e 56 deputados; e todos os demais com 23 cadeiras. O UKIP e os Verdes tiveram de contentar-se com uma cadeira cada. No total votaram 30,7 milhões, equivalendo a 66,1% do eleitorado inscrito.

Uma das excentricidades tão ao gosto dos ingleses, sacramentada em lei, mas sem razões que a expliquem, reza: “as eleições para a Câmara dos Comuns devem celebrar-se na primeira 5ª. feira de maio a cada cinco anos”.  Uma por uma as 650 circunscrições eleitorais escolheram por maioria simples num só turno o seu representante, num sistema que prejudica os partidos menores que não têm como apresentar candidatos, viáveis ou não, em cada distrito. São 533 deputados da Inglaterra, 59 da Escócia, 40 do País de Gales e 18 da Irlanda do Norte.

Líderes como Ed Miliband (PT), Nigel Farage (UKIP) e Nick Clegg (Liberais) de imediato renunciaram a seus postos, cedendo lugar a alguém com capacidade para recuperar o prestígio perdido por suas agremiações políticas. Na campanha o Partido Trabalhista concentrou sua artilharia na crítica aos cortes orçamentários ultimamente promovidos pela administração conservadora e prometeu recuperar o Sistema Nacional de Saúde com uma inversão de 3,4 milhões de euros. Além disso, numa tentativa de atrair o eleitorado jovem, prometeu baixar o valor da matrícula nas universidades de 13 mil para 8,2 mil euros. Do outro lado, as críticas se concentraram na suposta incapacidade laboral de Ed Miliband, retratado como fraco e pouco experiente. Três temas principais dominaram os debates: a questão europeia com a proposta do PC de realizar um plebiscito para decidir sobre a permanência ou não do Reino Unido na Comunidade Europeia; a independência ou não da Escócia e o problema migratório que, além da Itália e da Grécia, afeta a todos os demais países do bloco. Nesta discussão, o PC apoia, mesmo que apenas sussurrando, os radicais do UKIP que querem fechar as fronteiras aos africanos e aos desesperados que fogem das guerras na Síria e no Iraque, enquanto os líderes do PT ficaram em cima do muro, sem propostas claras, como se a velha Bretanha nada tivesse a ver com o assunto.

A questão Saúde teve um peso surpreendentemente secundário na decisão dos eleitores. O tradicional e exemplar Sistema Nacional de Saúde (National Health System - NHS -, modelo para o SUS brasileiro) vem sendo sistematicamente descaracterizado sob a administração Cameron. Agora o NHS, de acordo com insistentes declarações dos profissionais de saúde e dos trabalhistas, corre grande risco comprometendo os destinos de toda uma geração. Os perigos mais notórios são três: os drásticos cortes orçamentários; a privatização e o processo de reorganização administrativa que ameaça desestruturar de maneira permanente o sistema em suas bases conceituais, com reflexos danosos para a saúde dos pacientes, principalmente dos que não puderem pagar pelos cuidados de que necessitem.

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