América Latina sempre instável

dezembro 03, 2021.

Vitor Pinto.

Escritor. Analista internacional.

Mapa da América do Sul

Foto de Leon Overweel em Unsplash

Enquanto a vida passa, a América Latina continua nas eternas lutas consigo mesma mostrando um desenvolvimento contido e dependente, em boa parte, das vontades e das influências de seu vizinho mais potente, os Estados Unidos da América. Neste final de 2021, à sombra da pandemia da Covid-19, o noticiário dá destaque para os pequenos países do centro e do norte, embora prossiga o desassossego político peruano.

Esquerda retoma o poder em Honduras

Com dois terços das atas já processadas, as eleições de Honduras realizadas em 29 de novembro mostram uma vitória irreversível da esquerdista Xiomara Castro (esposa do ex-presidente Manoel Zelaya demitido do cargo há doze anos) do partido Libre que está com 1,2 milhão de votos, ou 51,4 do total. Seus adversários, Nasry Asfura e Yani Rosenthal com 35,6% e 9,6% reconheceram a derrota, pois não há 2º turno. A participação de 69% dos eleitores foi considerada muito alta para os padrões nacionais.

Surpreendente foi a maioria obtida no Legislativo pelo Libre com 49 deputados, dezenove a mais que nas eleições anteriores. Já o Partido Nacional, situacionista, teve de contentar-se com uma bancada de 42 deputados, à frente do Liberal (de Yani) com 23. Analistas prognosticam um governo de esquerda moderada e não de estilo chavista como o que seria com Zelaya.

Nicarágua abandona a OEA

Esta semana o chanceler nicaraguense Denis Moncada comunicou oficialmente à OEA que seu país “deixa de ser parte de uma Organização cativa de Washington, instrumentalizada em favor dos interesses norte-americanos”. A causa imediata foi a aprovação no último dia 12 de novembro no 51º período ordinário de reuniões de resolução afirmando que “as eleições de 7 de novembro na Nicarágua não foram livres, justas nem transparentes e não têm legitimidade democrática”.

A Assembleia Nacional, a Corte Suprema de Justiça e o presidente Daniel Ortega consideraram que houve uma ingerência estrangeira nos assuntos internos do país.

Cuba produz vacinas contra a nova variante pandêmica

Enquanto quase todos os países do mundo limpam seus caixas para liberar dinheiro a fim de comprar vacinas, Cuba está exportando a “Soberana” produzida em seus laboratórios de alta tecnologia em Havana. Agora, desenvolve a “Soberana Plus” destinada a combater a nova variante Omicron, prometendo disponibilizá-la em breve para exportação.

Barbados é uma República

Após 400 anos vivendo como uma Monarquia Constitucional, a pequenina Barbados, uma ilha caribenha com 34 km de extensão e 23 km de largura, no dia da sua independência (de 1966) proclamou-se uma república autônoma, colocando a senhora Sandra Mason de 72 anos e atual governadora como presidente em substituição a Her Majesty, a Rainha Elizabeth II.

Na última 2ª. feira de novembro, dia 29, o príncipe Charles compareceu às solenidades em Georgetown trazendo a mensagem materna de “good wishes”. Ao mesmo tempo a nova república concedeu à cantora Rihanna Fenty de 33 anos o título de 11ª. “Heroína Nacional”. Trata-se de uma grande honraria, considerando que dos demais só um segue vivo, o grande jogador de críquete Sir Garfield Sobers que, por sinal, declarou-se contrário à saída da Comunidade Britânica, a Commonwealth. Ele, hoje aos 85 anos, foi endeusado em sua época (de 1954 a 1974) como o melhor jogador do mundo quando jogou pela seleção das Índias Ocidentais que representava as ilhas antilhanas.

Barbados, colonizada pelos britânicos que aí chegaram no início do século XVII, viabilizou-se como uma plantation, nome dado aos extensos cultivos de cana de açúcar trabalhados por escravos trazidos da África cujos descendentes constituem em sua quase totalidade a atual população de 287 mil habitantes. A abolição da escravatura veio com Lei de 1834. De lá para cá a ilha se consolidou ao ponto de atingir um Índice de Desenvolvimento Humano de 0,788, o 3º melhor do continente americano, só inferior aos dos EUA e do Canadá.

A economia gira em torno do turismo por suas belíssimas praias com a vantagem de estar fora do circuito dos furacões do Atlântico na região. A exemplo da grande maioria das ilhas do Caribe e das Antilhas, Barbados é um paraíso fiscal devido aos baixíssimos impostos, facilidade para abrir empresas e manutenção do sigilo bancário, o que atrai negocistas internacionais interessados (como no caso de um ministro brasileiro) em lavar dinheiro ou em pagar menos tributos sobre suas fortunas por meio de empresas offshore.

Ameaça de cassação do presidente peruano

Empossado recentemente (há pouco mais de 4 meses) o presidente do Peru Pedro Castillo, sempre com seu chapéu de imensas abas largas, já enfrenta um duro pedido de impeachment apresentado por três partidos oposicionistas – Alianza País, Fuerza Popular e Renovación Popular - por “incapacidade moral permanente”.

A interrupção precoce de mandatos presidenciais é uma praga que grassa no Peru desde a remoção de Alberto Fujimori, ao qual se sucederam cinco outros cujos destinos foram a cadeia (três deles), o suicídio (caso de Alan García), fuga para os Estados Unidos (Alejandro Toledo) ou os processos na justiça que acossam o mais recente, Martín Vizcarra cuja prisão foi agora decretada.

Castillo, um desconhecido e inexperiente professor de Cajamarca que venceu as eleições por mínima margem, tem minoria no conservador Parlamento peruano e deve superar este precoce ataque de políticos que querem desestabilizar o governo a qualquer preço. Enfrenta, ainda, a dura missão de debelar a pandemia que segue causando severos danos à saúde da população. Devido a um dos mais altos índices de ocorrência e de óbitos de todas as Américas, o Peru convive com um Decreto de Emergência que é aplicado de maneira localizada em cada região e agora está estendido até 12 de dezembro com Toque de Recolher noturno e acesso reduzido a negócios, centros de diversão e restaurantes inclusive nas cidades maiores.

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