70 anos da bomba atômica

julho 17, 2020.

Vitor Pinto.

Escritor. Analista internacional.

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Foto de Science in HD em Unsplash

“A radiação não se pode ver nem tocar, nem sentir o odor. Quando fui a Chernóbil, logo me explicaram que não devia colher as flores nem sentar na relva, nem beber da água dos poços. A morte está escondida por toda parte”, escreveu Svetlana Aleksiévitch (Nobel de Literatura, 2015) sobre os efeitos, ainda sentidos dez anos depois do acidente nuclear de 1986.

Julius Robert Oppenheimer, o físico no comando do Projeto Manhattan que, com apenas 41 anos de idade testou a primeira bomba nuclear na área reservada a bombardeios de Alamogordo, sul de Los Alamos no Novo México, ao observar o seu imenso poder destrutivo, disse que lhe veio à mente palavras do guru indiano Bhagavad Gita: “agora tornei-me a morte, o destruidor dos mundos”. A competente equipe de físicos duvidava dos resultados finais daquilo que estavam fazendo: o Teste Trinity do “artefato”, mas “todos queriam que desse certo”. Alguns foram atormentados pelas terríveis imagens do cogumelo nuclear pelo resto de suas vidas.

Em 6 de agosto de 1945 The Little Boy (Pequeno Garoto), a bomba de urânio de 20 quilotons, o equivalente a 20 mil toneladas de TNT, explodiu na cidade japonesa de Hiroshima. Três dias depois a Fat Man (Homem Gordo), de plutônio e com a mesma potência destruiu Nagasaki, obrigando o Imperador Hirohito a assinar a rendição do seu país.

Numa prova a mais das ironias do destino, ou da inocência (outros dirão, irresponsabilidade) dos inventores, o sueco Albert Nobel que mal completara o primeiro ano do primário e depois se tornou um extraordinário autodidata sendo o inventor da dinamite, pouco tempo antes de falecer deixou uma fortuna para o governo instituir um prêmio às grandes criações da humanidade e escreveu uma carta à condessa Bertha von Suttner, uma pacifista convicta: “no dia em que exércitos inimigos possam aniquilar-se em um segundo, todas as nações civilizadas evitarão a guerra e desmobilizarão seus soldados”. Será que Albert de fato nutria tal ilusão, ou apenas quis escrever algo suave para agradar à mulher que tanto admirava e que infelizmente casara com outro?

Alguns dos físicos integrantes do Projeto Manhattan e corresponsáveis pela bomba mais tarde receberam o Prêmio Nobel por outras contribuições à ciência, como Richard Feynman em 1965 e logo depois Hans Bethe, um alemão que emigrou para o Reino Unido ao fugir dos nazistas, tornou-se diretor do laboratório de análises em Los Alamos e assim respondeu à pergunta “o que o senhor achou quando a bomba foi atirada?”, em entrevista à Folha de são Paulo: “Achei que foi a coisa certa a fazer”.

O fato é que, terminada a 2ª. Guerra, passou a imperar não a noção da paz entre os povos e sim a de que estoques ditos “preventivos” de armas nucleares são necessários para impedir novas guerras. Assim começou a corrida armamentista e hoje nove países possuem um estoque total de 14.465 armas muitíssimo mais poderosas que as testadas em Alamogordo setenta anos atrás: Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte.

A mais poderosa de todas ainda é a Bomba do Czar experimentada por Nikita Kruschev pela ex-União Soviética em 1961 no seu campo experimental de Nwaya Zemlya (Nova Zemla, arquipélago no Mar de Barents) com incríveis 50 megatons. Um jornalista ao observar o “monstro” disse que viu um imenso e brilhante cogumelo laranja, poderoso como Júpiter, que devagar e silenciosamente crescia e parecia sugar a Terra. O projeto Castle dos norte-americanos chegara a artefatos com 15 megatons.

Vale lembrar o famoso filme de George Stevens, o último estrelado por James Dean, com Rock Hudson e Elizabeth Taylor: Assim caminha a humanidade...

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