Os "amigos" de bolso

julho 14, 2020.

Vitor Pinto.

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Foto de Mirah Curzer em Unsplash

Em política e nas relações internacionais os acordos e as amizades podem mudar instantaneamente, ao sabor dos interesses de momento.

O mundo de hoje vive um retorno das ideias fascistas e nazistas que haviam sucumbido desde o final da 2ª. Guerra em 1945. Na Europa, por exemplo, os partidos de ultradireita superam a marca dos 10% dos votos (ou opiniões favoráveis) em treze países: o Fidesz na Hungria é o mais popular com 49%, seguindo-se o Partido (P.) da Liberdade na Áustria com 26%; o P. Popular suíço e o dinamarquês com 26% cada; o Vlaams Belang belga com 20,4%; o P. Popular Conservador na Estônia com 17,8%; os Finns P. que se autodenominam “Os verdadeiros finlandeses” com 17,7%; a Democracia Sueca com 17,6%; a Liga italiana com 17,4%; o Vox na Espanha com 15%; a National Rally (Rassemblement National de Jean-Marie Le Pen) na França com 13%; o P. da Liberdade na Holanda com 12,6%; a Alternativa para a Alemanha com 12,6% e o Democracia Livre e Direta da República Tcheca com 11%.

Isso tudo sem falar nos Supremacistas Brancos norte-americanos. Todos fazem parte do universo bolsonarista que lidera a corrente na América Latina.

Seja pela catástrofe global proporcionada pelo Covid-19, seja porque as tendências de fato mudam, até mesmo o apoio da ultradireita a Bolsonaro, no qual ele tanto confia, está fraquejando devido ao seu negacionismo sistemático e à torrente de erros cometidos na (não) condução das ações brasileiras de enfrentamento ao vírus.

Um dos primeiros a reclamar foi o presidente das Filipinas Rodrigo Duterte, famoso por matar ou apoiar a execução de traficantes de drogas, para quem o seu país “estaria numa grande merda se tivesse seguido as práticas e os conselhos do Brasil e dos Estados Unidos”. Hoje os três países que lideram a fatídica competição mundial em número de casos e de óbitos por Covid-19 – pela ordem Estados Unidos, Brasil e Índia – têm presidentes ultradireitistas que atuam na contramão da ciência e já acumulam, em conjunto, 6 milhões de casos e 231 mil mortes pelo novo coronavírus, respectivamente 46% e 40% dos totais no planeta.

Enquanto isso, alguns dos amigos de Bolsonaro enfrentam problemas eleitorais ou de sustentação interna que colocam em risco seus mandatos e o apoio futuro que inevitavelmente o atual governo brasileiro há de requerer face às crescentes críticas que tem recebido em foros internacionais. Benjamin Netanyahu viu-se forçado a dividir o governo de Israel com o opositor Benny Gantz do Blue&White Party que, em consequência, assumirá o posto de 1º Ministro no prazo de dezoito meses. Andrzev Duda equilibrou-se por um fio nas eleições deste mês na Polônia, vencendo em 2º turno ao prefeito liberal de Varsóvia Rafal Trzaskowski pela diferença mínima de 1% dos votos, sinalizando uma nação dividida ao meio. O radical Viktor Orbán, um dos três líderes que compareceu à posse de Bolsonaro, aproveitou-se da pandemia para “passar a boiada” e aprovou no Congresso um decreto que lhe concede poderes ditatoriais teoricamente no período de duração do problema epidemiológico.

Com seus agressivos índices de miséria e um “sistema” de saúde desconexo a Índia desafia Narendra Modi e o Nacionalismo Hindu do seu Bharatiya Janata Party que, para agravar a situação, persegue a comunidade muçulmana particularmente na Caxemira, aumentando as tensões com o vizinho e poderoso Paquistão. Para completar o instável quadro internacional, nosso Bolso corre o enorme risco de perder o apoio dos Estados Unidos que adora acima de tudo. Caso as pesquisas de opinião se confirmem, o próximo presidente voltará a ser um democrata: Jo Biden.

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