Gangues de todo o planeta na luta contra o Covid-19: agora vai!*

abril 21, 2020.

A mídia internacional começa a noticiar, um tanto assombrada, que vários dos mais violentos grupos terroristas, de traficantes ou de criminosos urbanos mais estruturados estão pedindo às comunidades que controlam ou apavoram que sigam a quarentena contra o Covid-19, fiquem em casa para não contaminar ninguém.

Por Vitor Pinto.

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Foto de Hush Naidoo em Unsplash.

O Hezbollah no Líbano mobilizou 1,5 mil médicos, 3 mil enfermeiros e agentes de saúde, além de 20 mil ativistas outros para lutarem contra o coronavírus. “Trata-se de uma guerra real que nós precisamos combater como a um cruel inimigo”, declarou à Reuters o dirigente do grupo encarregado de operar os hospitais e os locais reservados para quarentena.

Talebans no Afeganistão produziram vídeos e divulgam um variado material orientando sobre uso de máscaras e luvas ou sobre higienização das mãos com sabão. Em meio à guerra na Líbia o exército rebelde impôs um toque de recolher das 18h às 6 da manhã com o objetivo declarado de impedir a circulação do vírus.

Um dos últimos jornais distribuídos aos militantes pelo comando do persistente Estado Islâmico contém orientações sobre como combater o coronavírus. Já as forças islâmicas do Hamas estão construindo dois grandes hospitais de campanha para apoiar o atendimento de doentes contaminados pelo Covid-19 na Faixa de Gaza.

Em favelas do Rio de Janeiro os chefes de gangues estão percorrendo as estreitas ruas das “suas” comunidades para anunciar que estão impondo um toque de recolher porque quase ninguém está seguindo as restrições sanitárias corretamente: “Quem ficar de bobeira pelas ruas será punido como exemplo para o resto”.

Surpresos, analistas de ocasião tentam entender o novo fenômeno, pelo qual em muitos países gangues criminosas ou dedicadas ao tráfico e grupos terroristas ou revolucionários locais procuram substituir governos fracos e ausentes nos bairros periféricos das cidades grandes e médias.

É comum que, na medida em que dominam uma certa região ou bairro, essas “organizações” passem a administrar a justiça e a oferecer serviços sociais e de saúde para pessoas que não conseguem obtê-los em unidades governamentais.

Nesse cenário, coordenar os esforços na luta contra o coronavírus ocupando os espaços vazios deixados pela administração pública acaba se traduzindo numa estratégia de proteção à população que, agradecida, dá proteção aos elementos do grupo criminoso, cujas famílias e amigos também residem nas favelas e necessitam ser defendidas contra grupos rivais e a polícia ou contra agentes do mal como o Covid-19.

Organizações humanitárias internacionais, principalmente a Cruz Vermelha e o Médicos Sem Fronteira, têm uma longa tradição de trabalho conjunto com grupos violentos, desenvolvendo sempre que possível parcerias para dar socorro a pessoas desprotegidas ou a vítimas de guerra em áreas sob seu controle.

O acesso a territórios rebeldes ou a áreas urbanas controladas por criminosos e revolucionários nem sempre é possível, mas o fato de que estes mesmos grupos agora procuram entender o modo de transmissão e alastramento do novo vírus demonstra com nitidez o quão grave é uma pandemia que consegue romper barreiras antes totalmente fechadas até mesmo ao trabalho de caráter humanitário.

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