Kim Jong-un cresceu

junho 13, 2018.

Para Kim Jong-un foi um salto gigantesco que lhe possibilitou, em uma reunião de menos de cinco horas aparentemente muito divertida, pois ele riu o tempo todo, sair da lamentável posição de pária internacional para a de um estadista global ainda não respeitado, mas reconhecido pelo mundo. Como era esperado, os resultados concretos do “meeting of the century”, ou encontro do século segundo os mais exagerados, foram débeis e de escasso significado imediato. Contudo, o fato de que as tensões acumuladas ao longo dos últimos sete anos (e que em alguns momentos nos ameaçaram com uma guerra nuclear) foram amainadas, reduzindo os riscos de uma guerra acidental ou provocada pela insânia de líderes irresponsáveis, é sem dúvida um ganho extraordinário e um inegável mérito a ser creditado aos presidentes dos Estados Unidos e da Coréia do Norte.

Encantados com Kim, a grande novidade de Cingapura, a mídia rendeu-se e, num clima de pré-Copa do Mundo, em sua grande maioria considerou-o o vencedor da partida. A Newsweek abriu sua edição especial especulando que Kim foi, de fato, o cara mais esperto na sala. Restou apenas uma grande dúvida: afinal qual é a altura de Kim Jong-un? Ele, que aparece muito pouco, vinha sendo retratado como quase um anão. Surpreendentemente, caminhou ao lado de Trump, um homenzarrão, de igual para igual, quase da mesma estatura. Desconfia-se que estava usando um sapato especial que lhe conferiu vários centímetros a mais.

Trump evitou as grosserias de costume. Pelo contrário, declarou que Kim é um autêntico líder de seu país, convidou-o a visitar Washington e num dos muitos apertos de mão prometeu substituir os horrores da guerra pelas bençãos da paz. Apesar do franzir de narizes dos sul-coreanos, concretizou-se a promessa de suspender os exercícios militares norte-americanos caso os norte-coreanos congelem seus testes atômicos. A hipótese de desnuclearização da península coreana de fato já foi feita diversas vezes no passado, mas agora pode se transformar em uma meta real com a provável concordância e apoio de aliados-chave como a China, a Rússia, a União Europeia e o conjunto dos países asiáticos. Num sinal de respeito, o The New York Times tratou Kim como um “chairman”, o que significa “Presidente” ou dirigente maior. Ao contrário, em geral as emissoras brasileiras em extensa cobertura ficaram o tempo todo a chamá-lo de “ditador”. Vejamos o que se seguirá e em que velocidade. Provavelmente não ocorrerá um desarmamento completo, mas o compromisso efetivo de não usar as armas nucleares existentes é um avanço inegável a ser alcançado. Afinal de contas, é exatamente assim que se comportam as grandes potências do mundo atual.   **(VGP - Texto publicado em "O Popular" de 13/06/2018) **

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