Itália e seus políticos

abril 10, 2018.

Querendo passar uma mensagem de que algo de concreto vez ou outra pode surgir das suas conversações, os principais ganhadores das eleições de 4 de março último, antes de que o mês chegasse ao fim passaram uma tarde conversando com o magnata Silvio Berlusconi e concordaram com a escolha de Maria Elisabetta Alberti Caselatti (da Forza Italia de Berlusconi) para a presidência do Senado, e de Roberto Fico do Movimento 5 Estrelas para o comando da Câmara dos Deputados.

Felizmente a Itália continua crescendo. Um pouco menos que o conjunto dos países da CEE, mas ainda é a quarta economia da Europa, atrás apenas da Alemanha, França e Reino Unido. Claro que se dependesse de seus políticos, provavelmente estaria em último lugar, justificando a fama de que atualmente é um dos únicos países onde seus políticos conseguem ser piores que os brasileiros. . Completamente perdidos, os pretensos líderes do Movimento 5 Estelas, da Forza Italia, da Lega, dos Fratelli e mesmo dos Democratas, realizam intermináveis e patéticas reuniões apenas para, como de costume aos altos brados, reafirmar suas próprias idiossincrasias.

Textos recentes da Ansa e da AFP são reproduzidos abaixo, em uma homenagem de Mundo Século XXI ao seu esforço em tentar explicar ao mundo (e aos próprios italianos) o inexplicável. Vale frisar que, na hipótese de o presidente Mattarella convocar novas eleições face ao desentendimento doentio dos partidos, muito provavelmente os teimosos italianos - que hoje tanto reclamam - votarão da mesma maneira, dando vida eterna ao caos porque, possivelmente, deliciam-se com tal estado de coisas.

5a. e 6a. feira desta semana no Palácio Quirinale o presidente Mattarella recebe a turma para uma 2a. reodada de conversas. Sintomaticamente, desta feita Di Maio do 5 Estrelas é o último, portanto em condições (se quiser) de propor uma fórmula final.

Sem acordo para formar governo na Itália

 ** AFP **(5 DE ABRIL DE 2018)

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O presidente da Itália, Sergio Matterella, chega em coletiva de imprensa em Roma, na Itália, em 5 de abril de 2018

O presidente da Itália, Sergio Matterella, anunciou nesta quinta-feira que as forças políticas não conseguiram chegar a um acordo para formar o governo depois da primeira rodada de consultas oficiais. "São necessários mais dias de reflexão", declarou Mattarella depois de receber todos os líderes políticos, um mês depois das eleições nas quais nenhum partido obteve a maioria parlamentar para dirigir o país. Mattarella, como prevê a Constituição, é o juiz que tentará encontrar uma saída para o bloqueio político.

O líder xenófobo Matteo Salvini, lider da Liga do Norte e que também lidera a coalizão de direita, e Luigi di Maio, líder do movimento antissistema Cinco Estrellas, reivindicam a chefia do governo. Di Maio reivindica o cargo como representante do partido que recebeu o maior número de votos (32%).

A Itália, sem as referências de políticos que marcaram o século XX, está representada com novas cores, já que 50% dos italianos votaram em partidos antissistema, ou seja, o M5E e a Liga liderada pelo xenófobo Salvini. As declarações e tentativas de diálogo do último mês entre os principais líderes não permitem vislumbrar um acordo para desbloquear a situação.

Todos os cenários são possíveis e muitos consideram que a primeira fase de consultas não apresentará resultados.

ANSA - 5/4/2018

Passado um mês das eleições legislativas de 4 de março, os mais de 60 milhões de italianos ainda não sabem quem será seu próximo primeiro-ministro.

A primeira rodada de consultas com o presidente da República, Sergio Mattarella, terminou nesta quinta-feira (5), sem nenhum indício de acordo entre as três forças que controlam o Parlamento.

O Movimento 5 Estrelas (M5S), que possui 34% das cadeiras no Senado e 35% na Câmara, se tornou o partido mais votado do país combatendo o sistema e a política tradicional, mas agora precisa apelar a velhos inimigos para conseguir chegar ao poder. De um lado, o líder do M5S, Luigi Di Maio, tenta tirar a ultranacionalista Liga Norte, que tem cerca de 19% do Parlamento, da coalizão conservadora que venceu as eleições, mas sem garantir maioria; de outro, tenta atrair o social-democrata Partido Democrático (PD), ou ao menos parte de seus senadores (16%) e deputados (17%).

No entanto, Di Maio sequer cogita governar ao lado do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, aliado da Liga, ou do também ex-premier Matteo Renzi, secretário do PD até pouco tempo atrás e líder de uma corrente importante dentro da legenda. "Agora devemos encontrar uma solução para o país, sozinhos não podemos governar", reconheceu Di Maio, declarando, no entanto, que não é possível fazer um governo de "mudança" ao lado de Berlusconi. "Não é uma questão pessoal", disse.

Na prática, o líder do M5S tenta pressionar Matteo Salvini, secretário da Liga, a tirar seu partido da aliança conservadora para formar um gabinete com as forças antissistema. Para isso, contudo, o ultranacionalista teria de abrir mão da cadeira de primeiro-ministro. Até o momento, Salvini vem negociando no âmbito da aliança de direita, que tem 42% do Parlamento e tenta levá-lo ao comando do governo. Por conta disso, Di Maio mantém as portas abertas ao PD, tentando apelar ao presidente Mattarella para aumentar a pressão sobre o partido centro-esquerdista.

Comandado interinamente pelo ex-ministro de Políticas Agrícolas Maurizio Martina, o PD garante que ficará na oposição, mas a legenda é formada por diferentes correntes que poderiam se separar de uma hora para outra. Algumas delas, como a "AreaDem", a maior de todas, foram cortejadas por Di Maio nos últimos dias. O M5S poderia dividir o PD e obter os votos restantes com legendas menores ou que representam as minorias linguísticas, garantindo maioria no Parlamento, ainda que estreita. Na outra frente, o movimento já prometeu até adotar uma postura "não hostil" em relação a Berlusconi, mas sem lhe dar cargos no governo. O fato é que, até o momento, não há nenhuma possibilidade de acordo no horizonte, o que fez Mattarella convocar os partidos a uma nova rodada de consultas, na semana que vem. Se o impasse persistir, o presidente pode ser forçado a convocar eleições novamente.

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