Estado de emergência na Etiópia de Tedros Gebreyesus

fevereiro 18, 2018.

Pela segunda vez nos últimos dois anos o governo etíope que é da minoritária etnia Tigray declarou esta semana um Estado de Emergência, destinado a coibir protestos de rua das largamente majoritárias etnias Oromo e Amhara (62% da população contra 6% dos tigrays e 32% de várias outras raças). A exceção prévia perdurou por 10 meses.

A medida de agora foi tomada um dia após a renúncia ao cargo do Primeiro Ministro Hailemarian Desalegn, por "não ter conseguido controlar a crise nem fazer as reformas necessárias à paz e à democracia". O governo informou que apenas em quinze dias o decreto será apreciado pelo sempre submisso Congresso.

Hailemarian na verdade saiu porque a linha dura da Frente Democrática Revolucionária Popular, no poder, considerou que ele estava fazendo concessões em demasia. Em janeiro último cerca de 6.000 prisioneiros políticos foram libertados, seguidos por outros 746 este mês, além do compromisso em fechar o campo de concentração e tortura de Maekelawi no centro do país. Não obstante, a oposição considerou que o processo tem sido lento e que um número considerável de participantes nos protestos de 2016 e 2017 (quando foram aprisionados mais de 20 mil militantes) continuam detidos. A Etiópia mantém em suas prisões mais de 110 mil pessoas. Ainda assim, tem recebido integral apoio logístico e financeiro dos Estados Unidos graças ao seu comprometimento com a "guerra ao terror" e à sua posição geográfica - um sanduíche entre a Somália e o Sudão do Sul.

Os atuais protestos dão sequência aos movimentos de massa de Oromos e Amharas iniciados em 2015, quando a repressão oficial na capital Adis Abeba e na província de Oromia atingiu seu ápice, matando centenas de opositores e encarcerando outros milhares.

À época o Dr. Tedros Gebreyesus, que pertence à etnia Tigray, era o Chanceler na administração etíope. função exercida de 2012 a 2016 em que, além de dar sustentação às ações repressivas de seu governo, teve a missão de externamente justificar os massacres. Ainda assim, no ano passado o Dr. Tedros recebeu apoio da União Africana e se tornou o primeiro representante do continente a assumir o posto de Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde.

"A melhor maneira de assegurar a estabilidade nacional não é declarar novo Estado de Emergência, algo desnecessário, inútil e não desejado pela população", declarou Jawar Mohammed, coordenador da Oromia Media Network. A embaixada norte-americana também protestou, distribuindo Nota em que declara:  "restrições à capacidade do povo etíope de expressar-se pacificamente enviam uma clara mensagem de que suas vozes não estão sendo ouvidas". Nas ruas o povo repete o gesto dos punhos cruzados do maratonista oromo Feyisa Liksa, medalha de prata na maratona dos maratona dos Jogos Olímpicos do Rio em agosto de 2016. 3648 300x180

Manifestantes etíopes protestam fazendo o gesto de Feyisa Liksa na Olimpíada do Rio de Janeiro

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