[caption id="attachment_4673" align="alignright" width="300"] Kurdistão iraquiano em setembro de 2017 (Fonte: Al Jazeera)[/caption]
Enfrentando forte reação contrária do governo nacional do Iraque e também dos Estados Unidos e dos vizinhos Irã e Turquia, o presidente do Curdistão Iraquiano (CI), Masoud Barsani, realizou um referendo pela autonomia da pátria curda na última 2a. feira deste setembro, dia 25.
Este site, em 5/2/2016, publicou uma ampla análise sobre o tema com o título "A odisseia curda" (vide o link ao final), no qual explica o longo e interminável drama de um povo sem pátria que em todo o Oriente Médio reúne cerca de 30 milhões de pessoas, 49% das quais na Turquia e 27% no Irã, além de 4% na Síria e os restantes 20% (hoje entre 5,5 e 6 milhões) no Curdistão iraquiano, a terra dos Peshmergas, o temido exército curdo cujo pepel foi determinante para a derrota e expulsão dos invasores do Estado Islâmico (EI).
Situado no norte do Iraque, o Curdistão é uma região em grande parte montanhosa graças a elevações que atingem os 3.600 metros nas Montanhas de Cheekha Dar. Com un território estimado em 65 mil km2 antes da atual campanha contra o EI, os Peshmergas impuseram seu domínio para além das províncias de Erbil (a capital do CI), Dubok e Sulaimaniya, ocupando mais 41 mil km2 ao se imporem na maior parte das cidades de Winawe, Diyala e da "joia da coroa", Kirkuk, com suas vultosas reservas de petróleo.
O referendo não é mandatório e servirá essencialmente para que o hoje Governo Regional do Curdistão (GRC) fortaleça seu poder de negociação pela conquista da pátria curda. Na verdade, o artigo 140 da Constituição que regula a posse da região autônoma e sua administração, estabelece que as áreas em disputa com o governo federal iraquiano devem decidir por si mesmas onde querem ficar. Com a proximidade da data decisiva, EUA, Iraque, Síria e Irã formularam uma proposta que visa adiar o plebiscito, mas como não se comprometem sequer com uma data alternativa dificilmente conseguirão convencer Barsani a que volte atrás. Numa clara medida de retaliação, o governador de Kirkuk acaba de ser demitido por Bagdá por ter autorizado a realização do referendo em seus domínios.
O ditador turco Recep Erdogan, que odeia os curdos e tem medo de que a independência no Iraque influencie os apetites libertários dos curdos em seu país, diariamente profere ameaças como a de cortar as importações do petróleo de Kirkuk a fim de sufocar economicamente o "inimigo". Mas, mesmo Erdogan teme um enfrentamento bélico com os temíveis Peshmergas, respeitados como um agrupamento militar de elite em toda a região. Por seu lado, os EUA terão de honrar a imensa dívida que têm para com os combatentes curdos que anos atrás viabilizaram a derrubada de Sadam Hussein apoiando a ofensiva de George Bush e agora foram os únicos a assumir a batalha no terreno contra o EI e superá-lo. Todos sempre souberam que só existe uma maneira de pagar o preço exigido pelos heroicos combatentes curdos: conceder-lhes (algum dia) a independência.
Atualização
O Comitê eleitoral desde sua sede central em Erbil, a capital do estado semiautônomo do Curdistão iraquiano, informou que 72,6% dos que estavam habilitados a votar compareceram às urnas. A apuração mostrou que 92,73% dos 3.305925 eleitores que compareceram votaram SIM à possibilidade de independência de uma pátria curda no norte do Iraque.