A prática da Mutilação Genital Feminina (MGF ou GFM na sigla em inglês) ainda é extremamente comum na África, favorecida pelas mulheres que desde muito cedo submetem as filhas e pelos homens que a ela relacionam os ritos de prazer sexual. Consiste na remoção por um curandeiro, praticante de medicina tradicional, do clítoris ou - nas suas formas mais invasivas - até mesmo dos grandes lábios vaginais. Estima-se que mais 125 milhões de mulheres em 29 países africanos e do médio Oeste (mais de 90% no Djibouti, Egito, Mali, Sudão, Iraque) foram submetidas à circuncisão feminina que em alguns países é conhecida como "circuncisão sunita". A Organização Mundial da Saúde desde 2012 condena a MGF como séria violação aos direitos humanos das mulheres, pedindo sua eliminação.
Enfrentar costumes tradicionais como este não é tarefa fácil, mas está sendo levada adiante, num exemplo digno de nota, em Al Qadarif - cidade com 336 mil habitantes que é a capital do estado do mesmo nome no Sudão do Sul, fronteira com a Etiópia - pela Escola Gadaref de Parteiras. Denominadas de Parteiras Qapelat (recebedoras), são grupos de 50 a 70 anos alunas entre 19 e 40 anos em cada turma que se submetem a um curso de 15 meses em tempo integral, aprendendo que a realização de qualquer tipo de MGF é um crime e, se descoberto, significa a retirada imediata do seu diploma. Uma pesquisa realizada na província constatou que entre 37% e 43% das meninas entre 0 e 14 anos de idade já foram mutiladas. Mas, das 12 escolas existentes no estado, hoje apenas em uma são dados conhecimentos teóricos e práticos de como executar a cirurgia sob anestesia (nem sempre adotada pelos curandeiros).
[caption id="attachment_2608" align="alignright" width="300"] Professora em plena aula na Escola Gadaref de Parteiras em Al Qadarif, Sudão do Sul (imagem Al Jazeera)[/caption]