Sonhos dos migrantes acabam na Hungria e na Áustria

agosto 30, 2015.

[caption id="attachment_2246" align="alignright" width="300"]Caminhão frigorífico ao invés de aves congelou 71 migrantes numa estrada austríaca Caminhão frigorífico ao invés de aves congelou 71 migrantes numa estrada austríaca[/caption]

O 1º ministro húngaro Viktor Orbán endurece as penalidades e castigos para estrangeiros ilegais, enquanto nas fronteiras reforça as triplas cercas de arame farpado, fortalece o policiamento com ordens de atirar no que se mover fora dos corredores ainda permitidos e coloca mais cal e tijolos no muro de 4 metros de altura e 175 km de extensão cuja construção acelera, ao mesmo tempo em que faz vistas grossas para os traficantes de humanos facilitando-lhes a travessia do seu trágico país rumo à Áustria, em cujos limites potentes camionetes 4x4 e matilhas de ferozes cães de caça se multiplicam.

“Aqui na Hungria e na Sérvia a polícia nos trata como animais e vamos seguindo e pagando o que nos cobram a cada passo, de labirinto em labirinto” disse Samar, uma mulher síria de 40 anos à AFP. A Hungria é hoje, politicamente, o país mais à direita na Europa. No poder por cinco anos desde 2012, o Partido Fidesz, populista de direita, do presidente János Áder e de Viktor Orbán tinha 2/3 das cadeiras no Congresso graças à aliança com o ultra conservador Partido Cristão Democrático Popular (KDNP), mas este ano a maioria absoluta foi rompida com o crescimento em eleições intermediárias do Movimento para uma Hungria Melhor (Jobbik) considerado o mais direitista dos agrupamentos políticos europeus em função de sua doutrina abertamente racista, anti-semita baseada num nacionalismo étnico radical e em teorias neo-nazistas.

Os primeiros ministros da Itália e da França secundaram o Papa Francisco com declarações humanitárias e pedidos de cooperação efetiva que, no entanto, perecem inteiramente destituídas de conteúdos e efeitos práticos diante da tragédia dos 71 corpos em decomposição (59 homens, 8 mulheres e 3 crianças) encontrados em uma van à beira da estrada no rumo de Viena. Esse é visto como o coroamento de toda uma “política” de omissão e de xenofobia há anos estimulada nos países da Europa Ocidental, cujos governos de há muito não têm mais desculpas nem perdão.

Estimativas da ONU dizem que 300 mil pessoas fugiram de conflitos e da fome da África e do Oriente Médio em direção à Europa somente neste ano. Milhões empilhados em campos de refugiados no Líbano, Jordânia e Turquia aguardam uma chance para seguirem os mesmos caminhos.

Quatro búlgaros e um afegão foram detidos pelas forças de segurança magiares como responsáveis pelas mortes da van. São membros das gangues de traficantes de gente (também do ópio afegão e de armas) que têm escritórios em plena e aberta atividade em Budapeste e nas principais cidades dos países vizinhos (no lado apelidado de “civilizado” do continente europeu). Mas eles simplesmente se declararam inocentes de qualquer crime a não ser o de estarem desempregados e sabem que se abrirem a boca para delatar os “capos” que são seus chefes e donos, não sobreviverão nem por 24 horas.

No dia seguinte outro grupo em lamentáveis condições foi localizado nas estradas austríacas. As três crianças com severa desidratação recolhidas a um hospital não foram vigiadas e na madrugada desapareceram, ao que se sabe para seguirem viagem com “a família” para a Alemanha que anunciou estar recebendo migrantes. (VGP)

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