Pólio sai de controle no Paquistão

março 29, 2015.

A poliomielite ou paralisia infantil foi erradicada nas Américas em 1994. A Europa, declarada livre do víus somente em 2002, agora se vê ameaçada em suas fronteiras ao sul devido ao surgimento de casos em Israel e na Síria. Tanto nesses quanto no Iraque, Etiópia, Somália, Guiné Equatorial e Camarões os novos doentes foram infectados em um dos três únicos países do mundo onde a pólio persiste e é endêmica: Paquistão, Afeganistão e Nigéria. No Brasil os últimos surtos ocorreram em Santos (1937), Rio de Janeiro (1953) e no Nordeste em 1986, mas nenhum caso foi detectado nos últimos vinte e seis anos, período em que também não se constatou a presença do vírus em portadores assintomáticos ou no meio ambiente. Sem ter cura, a doença – transmitida de pessoa a pessoa, pelas fezes, por água e alimentos contaminados - é prevenida pela vacinação que deve ser feita no segundo, quarto e sexto mês de vida, com dois reforços administrados até doze meses após a 3ª. dose e entre 5 e 6 anos de idade. Segundo a OMS, um em cada 200 infectados desenvolve irreversível paralisia e desses até 10% pode morrer. No mundo a redução na incidência foi de 99%, baixando de 350 mil casos em 1988 para 416 em 2013. No entanto, todas as crianças estão ameaçadas enquanto uma só delas permanecer afetada e a não erradicação nos três países restantes ainda pode resultar numa reativação em massa da epidemia.

A situação mais crítica é a do Paquistão onde milícias talebans perseguem e assassinam os componentes das equipes de vacinação, alegando que a vacina é parte de um plano do Ocidente para esterilizar e infectar crianças, conceitos que são sistematicamente disseminados nas pregações feitas nas mesquitas pelos clérigos salafistas e wahabitas.  Das muitas guerras que o país enfrenta, a mais dura e complexa é, sem dúvida, contra a pólio.

[caption id="attachment_1845" align="alignright" width="300"]Agente de Saúde admninistra vacina oral contra a pólio em área rural no Paquistão (www.state.com) Agente de Saúde admninistra vacina oral contra a pólio em área rural no Paquistão (www.state.com)[/caption]

A violência terrorista, condições ambientais e higiênicas fortemente adversas e dificuldades de acesso aos sítios mais pobres têm como consequência uma aguda falta de pessoal para compor as equipes de trabalho. Por outro lado, como declarou ao jornal Al Jazzeera o diretor de saúde da cidade de Tank, uma das mais atingidas, nos limites com o Waziristão do Sul (onde a Área Tribal Federalmente Administrada - FATA na sigla em inglês - é um território dominado pelos talebans), “muitas famílias recusam-se a permitir que suas crianças sejam vacinadas por motivos religiosos. Abbottabad  provou-se muito danoso para nós”, completou numa referência ao uso de médicos e agentes de saúde pela CIA que resultou na captura de Osama Bin Laden em 2011. Desde julho de 2012 pelo menos 66 componentes das equipes de vacinação foram mortos no Paquistão, o mais recente num ataque em Bajaur na FATA. Na campanha de vacinação de 2014 cerca de 610 mil crianças não compareceram para receber sua dose da Sabin em todo o país. O Exército e a Polícia começaram a prender os pais que não permitem a vacinação dos filhos, mas as superlotadas cadeias limitam o sucesso dessa estratégia de desespero, com resultados nem sempre positivos. Quando os soldados entram nas casas à procura dos meninos, constatam que eles simplesmente desapareceram, em geral levados na véspera para casas de parentes no campo ou em outras localidades que não estejam sendo alvo da campanha.

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