Juan Verdesio[[1]](#ftn1)_
O Brasil tem na fronteira sul um país pequeno, mas muito original que a grande maioria dos brasileiros desconhece ou só conhece superficialmente. Por ter nascido lá e ainda me surpreendendo com este pequeno lugar do mundo, sempre que posso tento mostrar o que ele tem de melhor e de pior. Assim fiz com meus alunos na UnB. Cada vez que começava um curso me apresentava, apresentava a minha família uruguaia e brasileira e de onde tinha saído este pequeno país em tamanho, mas muito grande em algumas de suas características.
É o país menos corrupto da América Latina, segundo a Transparência internacional que o coloca em posição 21 ao nível mundial, junto com o Chile, entre 175 países. França, Portugal, Espanha e Itália têm índices de percepção da corrupção superiores.
Só este índice mostra que os valores compartilhados pela população são bastante diferentes dos do resto da América Latina. Segundo estudos da World Values Organization (https://www.worldvaluessurvey.org/WVSContents.jsp), em termos de valores, Uruguai está mais próximo das sociedades anglófonas como Irlanda do Norte ou mesmo da Espanha do que da Argentina. Isto claramente está manifesto pela baixa religiosidade da população. Entre 38% a 40 % dos uruguaios são ateus ou agnósticos. O catolicismo é a principal religião embora tenha a percentagem mais baixa do continente (41 %). Se é um país tão pouco religioso alguns se perguntariam porque é o país mais pacífico da América Latina? Por isso mesmo, não há dominância de uma religião, há uma grande tolerância às diferenças e porque é um país onde as liberdades individuais, de opinião, de imprensa são extremamente respeitadas. Além disso, é a democracia mais sólida da América ocupando a posição 18 ao nível Mundial (ver tabela embaixo)
Na minha opinião, tudo começou a mudar em 1877. Até 1904 o país pouco se diferenciava dos vizinhos mergulhada como estava em revoltas e pequenas escaramuças entre os caudilhos locais. Nesse ano foi aprovada a lei que tornava o ensino público gratuito, obrigatório e, alguns anos depois se tornou completamente laico. Foi o segundo país do mundo que conseguiu tal façanha totalmente concretizada décadas depois. A supressão do analfabetismo aconteceu por volta dos anos 40 do século XX. Foi seguido por reformas implantadas nos governos de José Batlle y Ordoñez em que foram aprovados o divorcio, a jornada de trabalho de 8 horas, licença maternidade. Tudo isso acontecendo antes de 1915. Depois veio o voto da mulher antes do que na França.
Em certos aspectos a sociedade uruguaia poderia servir de exemplo para a atual sociedade francesa que tem enormes dificuldades de integrar os estrangeiros. O Uruguai soube fazer isso sem grandes conflitos considerando que recebeu contingentes populacionais muito mais importantes em números relativos do que a sociedade francesa de pós Guerra. Em 1875 Uruguai tinha 450.000 habitantes sendo que, em 1900, passou para 1 milhão com 50 % de estrangeiros.
Com uma população integrada, culta, com acesso a bens culturais o país foi cada vez mais se transformando em uma Suíça americana. Em parte porque adotou, numa certa época, o sistema colegiado de governo sem a figura do Presidente. Hoje existe um sistema presidencial, mas com muitas limitações e controles legais sobre a ação do Executivo. O Executivo realmente executa, o Legislativo legisla e a Justiça dirime os conflitos. É um país muito respeitoso dos contratos e dá muitas garantias jurídicas atraindo capitais do mundo inteiro. Mas é parecido com a Suíça mais porque é um país cosmopolita e aberto aos fluxos financeiros internacionais podendo circular, trocar, depositar e receber juros em moedas estrangeiras sem nenhum constrangimento. Dessa abertura soube tirar benefícios que se distribuíram em toda a sociedade. Em outras contribuições poderemos aprofundar mais nestas singularidades desse pequeno país que tem conseguido concretizar grandes logros sociais. E também nas partes negativas e/ou que ainda necessitam de correções de rumo. Citarei dentre elas o excessivo papel do Estado como agente ativo na Economia.
Índice (ano)
Autor / Fonte
Ano
Posição
Posição
Publicação
Mundial**(1)**
América Latina
Liberdade de imprensa mundial (2013)
Jornalistas Sem Fronteiras
2013
27º
2º
The Economist
2012
18º
1º
The Economist
2013
24º
1º
International Living
2010
19º
1º
The Economist
2007
46º
6º
Instituto Legatum
2014
31º
1º
Competitividade Turística (2012)
Fórum Econômico Mundial
2012
59º
6º
Transparência Internacional
2013
19º
1º
The Wall Street Journal e Fundação Heritage
2012
29º
2º
Competitividade Global (2012-2013)
Fórum Econômico Mundial
2012-13
74º
8º
Nações Unidas (PNUD)
2012
51º
3º
Igualdade do ingreso (1989-2007)
Nações Unidas (PNUD)
2007-2008
88º
4º
Índice de Competitividade Tecnológica (2012-2013)
The Global Information Technology (PNUD)
2012-2013
52º
3º
Índice de direitos de propiedade (2010)
Americans for Tax Reform
2010
50º
3º
Revista Foreign Policy
2010
53º
5º
Extraído da Wikipedia e conferido com dados mais atuais
[1] Professor aposentado da UnB. Doutor em Economia Aplicada à Energia