Em queda livre: petróleo, Venezuela, Rússia, Petrobrás

dezembro 13, 2014.

Em meio à Operação Lava Jato, à crise de credibilidade externa e desmoralização interna da Petrobrás, a queda abrupta e persistente na cotação do barril de petróleo no mercado internacional provoca desequilíbrio no mercado e ameaça a estabilidade econômica e política de alguns países produtores. Nesta 6ª. feira, 12/ 12/2014, o barril de petróleo West Texas, de referência nos Estados Unidos, baixou a menos de 58 dólares, sua menor cotação desde maio de 2009. Nos últimos seis meses a desvalorização foi superior a 40%. Na média dos últimos três anos os preços internacionais se mantiveram em torno de US$ 110 por barril. No entanto, houve uma redução da demanda chinesa e europeia, ocasionando uma desaceleração entre os emergentes, ao mesmo tempo em que a produção cresceu nos EUA, no conjunto da OPEP e em países como Brasil, Canadá, México, Iraque, Líbia.

Quem ganha e quem perde agora e no futuro próximo com tanta instabilidade? Os ganhadores principais são os Estados Unidos que aumentaram em muito sua capacidade produtiva com a polêmica exploração do xisto betuminoso e de gás; a Arábia Saudita que dá as cartas na OPEP por ser o maior exportador mundial da commoditie e se recusa a diminuir a oferta entre outras razões para prejudicar o Irã; a Europa em crise por reduzir seus gastos com importação; a China e o Japão que compram no exterior quase todo o petróleo que consomem. Entre os maiores perdedores alinham-se os países cujas balanças comerciais dependem essencialmente do petróleo e têm cometido erros sistemáticos de gestão nos últimos anos, como é o caso da Venezuela, da Rússia e em parte do Irã (também do Equador, primo pobre entre os gigantes), mas não do México que tem um comércio externo mais equilibrado. Sofrendo bloqueios econômicos severos por suas desastradas intervenções na Criméia e na Ucrânia, o czar Vladimir Putin pode não ter dinheiro para custear suas loucuras. Estima-se que a Rússia perde US$ 2 bilhões de receita a cada redução de US$ 1 no preço do barril. Quanto ao Brasil, esperam-se ganhos imediatos na balança comercial com um menor preço do petróleo e pelo alivio que pode proporcionar às contas da Petrobrás. No médio e no longo prazo não terá recursos suficientes para explorar os campos do pré-sal, sabidamente de custo muito elevado, provocando segundo a análise de Adriano Pires, professor da UFRJ, revisão nas metas de produção e sequelas em todos os setores da economia nacional.

A Agência Moody’s, especializada em qualificação de risco, advertiu para a possibilidade de bancarrota da Venezuela caso o preço caísse a menos de 60 dólares, gerando o risco de não pagamento de dívidas. Para ela, os países exportadores que gastam mais, dependem fortemente das divisas obtidas com o petróleo e têm menor capacidade de fazer os ajustes internos necessários são os mais negativamente afetados. O regime de Nicolás Maduro pediu uma reunião da OPEP no começo de janeiro para discutir medidas para salvar-se. O país sul-americano possui (em paralelo com a A. Saudita) cerca de 16% das reservas mundiais, mas responde por apenas 3,5% da oferta global. A produção diária que era de 3,5 milhões de barris quando Hugo Chávez chegou ao Palácio de Miraflores atualmente é de 2,5 milhões de barris. Caso consiga, pouco a pouco, retomar sua capacidade produtora fatalmente ocasionará superoferta e ainda maiores quedas nas cotações do produto no mercado.

Não devem ser desprezados, ainda, possíveis efeitos colaterais sobre o clima e o transporte. Os altos preços do passado recente estimularam a busca de fontes alternativas de energia renovável e não poluidora como a eólica e a solar, além de estimular o uso de carros elétricos, mas esses ganhos podem ser comprometidos com o incremento no uso de um petróleo mais barato, resultando em maiores emissões de carbono e em temperaturas médias ainda mais altas na Terra.

As dificuldades para a adaptação do Brasil a esse novo quadro crescem diante das evidências cada vez mais amplas e profundas da corrupção que corrói a principal empresa estatal. A Petrobrás que quatro anos atrás valia R$ 380 bilhões, hoje está cotada em R$ 179,5 bilhões. Os papeis preferenciais PETR4 (ações) chegaram a valer R$ 74,00 no pico em maio de 2008, encolheram para R$ 20,00 em outubro último e agora estão sendo oferecidos a R$ 10,00. No 1º trimestre deste ano a Petrobrás registrou déficit de 454 mil barris/dia de petróleo, consequência do aumento nas importações e diminuição nas exportações, um resultado nove vezes inferior ao alcançado no mesmo período de 2012. O pré-sal (localizado numa área de 149 mil km2 a cerca de 6 km abaixo do nível do mar, sob uma espessa camada salina) exigirá investimentos estimados em US$ 82 bilhões até 2018, mas os escândalos que levaram o Ministério Público Federal a denunciar 36 altos executivos e seus intermediários ligados a seis das principais empresas construtoras do país levaram outra agência de risco, a Fitch Rating, a dizer que isso pode afetar a qualificação creditícia da estatal brasileira, limitando seu acesso a créditos num contexto geral de preços cada vez mais baixos do petróleo. No começo do ano a presidente da estatal Graça Foster declarou à EBC que o Brasil deve se tornar autossuficiente na produção de petróleo em 2015 e nos derivados em 2020. Para confirmar tais previsões há que, agora, fechar os ralos que estão sugando os ativos e o caixa da companhia.

Numa atualização relativa às repercussões internacionais da crise, nota resumida a seguir de G. Vallone de New York ("www1.folha.uol.com.br/mercado/" - 14/12/2014 - Investidores nos EUA aceleram fuga dos papeis da Petrobras) dá bem a ideia do problema.

"O escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras afugentou grandes investidores da companhia no mercado dos Estados Unidos. Levantamento feito pela Folha mostra que 25% dos investidores institucionais (fundos de pensão, seguradoras, fundos de investimento) reduziram em ao menos um terço o número de ADRs (recibos de ações) ordinários —os mais negociados na Bolsa de Nova York— que possuíam desde o início do semestre. Fundos de investimento vêm reduzindo suas apostas na companhia brasileira desde março, quando a Operação Lava Jato revelou os primeiros detalhes do esquema de subornos e superfaturamento dentro da Petrobras.Entre eles, 15% venderam todos os papéis que constavam em seu portfólio. Considerando todos os fundos com ADRs da petrolífera nos EUA, 10% zeraram o número de ações desde o início de julho. Além das notícias constantes sobre os desdobramentos do escândalo no Brasil, a Petrobras é investigada pelas autoridades regulatórias americanas e processada por investidores. Os ADRs ordinários da Petrobras acumulam desvalorização de 51% entre julho e sexta-feira passada (12). A Franklin Mutual, gigante do gerenciamento de investimentos, vendeu cerca de 20 milhões de ações no terceiro trimestre, 90% de todos os papéis que possuía. A T Rowe Price se desfez de mais 18 milhões no mesmo período."

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