De Guantânamo para Montevidéu

dezembro 08, 2014.

Desde 2002, quando G.W. Bush - em resposta aos atentados às torres gêmeas de New York no ano anterior - autorizou o funcionamento da Base Naval americana em território cubano como um Centro de Detenção parra terroristas, um total de 775 prisioneiros passou por Guantânamo, todos sem acusação formada, sem processo constituído e sem direito a julgamento. A prática de tortura ao arrepio dos códigos internacionais de justiça e de respeito aos direitos mínimos de quem é capturado em cenário de guerra, tornou-se comum.

Finalmente em 12 de janeiro de 2009, logo após tomar posse como primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama assinou decreto ordenando o fechamento de Guantânamo no prazo máximo de um ano. O objetivo não foi ainda cumprido na íntegra, pois hoje restam 136 presos, cem a menos do que quando Obama assumiu e Clifford Sloan, o encarregado do fechamento da base, acaba de agradecer a José Pepe Mujica, o presidente uruguaio, por receber o maior contingente liberado (desde 2009) da ilha caribenha. Neste domingo 7/12/2014 as correntes, algemas e capuzes cor de laranja afinal foram retirados para que descessem em plena liberdade no aeroporto de Carrasco Mohamed Takamutan (palestino, 34 anos), Abdul Bin Querghi (tunisiano, 49) e os sírios Ahmed Adnan (37), Abd Mahmaud Faraj (32), Husain Shabaan (32) e Ahmed Wael Dhiab (43).

As autoridades uruguaias informaram que após as devidas avaliações médicas que estão sendo feitas no Hospital Militar de Montevidéu os ex-prisioneiros poderão ter vida normal como qualquer outro cidadão.

O caso mais crítico é de Ahmed Dhiab, há 13 anos na prisão sem qualquer condenação, que desde 2009 estava habilitado para sair da ilha e entrou em greve de fome em fevereiro do ano passado, desde então entrando em regime de alimentação forçada. Extremamente fraco, não tem avaliação física e neurológica precisa, pois em Guantânamo não há equipamento para ressonância magnética ou tomografia. Para recebê-lo veio de Londres a advogada Cori Crieder da Organização Não Governamental britânica Reprieve (o termo significa, em tradução livre, livrar de pena capital) que pela primeira vez nos últimos oito anos notou-lhe alguma emoção na voz, logo após ter certeza de chegar em território uruguaio. "Ele não sabe bem o que fazr com sua vida exatamente. Uma pessoa que está em Gauntânamo não pensa que vai poder ficar livre em algum momento", disse ela ao jornal La República.

Outros 19 países já concederam asilo político a egressos da prisão norte-americana no Caribe, com os maiores contingentes na Albânia com 11 homens e Eslováquis com 8. O Uruguai é o primeiro país sul-americano a participar desse processo, sucedendo no continente

[caption id="attachment_1386" align="alignright" width="300"]Prisioneiros cumprem sua rotina diária na prisão de segurança máxima de Guantânamo Prisioneiros cumprem sua rotina diária na prisão de segurança máxima de Guantânamo[/caption]

a Bermudas (4) e El Salvador (2). Dentre os seis que de ora em diante podem escolher o que fazer e, se o desejarem, trazer suas famílias, dois (Takamutan e Quergui) foram assinalados pelas autoridades de Washington como pertencentes à Al Qaeda. Contudo, como nunca foram submetidos a qualquer processo legal, em última análise são cidadãos livres, só não podendo retornar a seus países de origem.

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