Saúde Pública e Privada na China

setembro 02, 2014.

Quando Margareth Chan, a Diretora-Geral da Organização Mundial da Saúde, fala em alcançar uma Universal Health Coverage – UHC ou Cobertura Universal em Saúde – está naturalmente em primeiro lugar pensando em seu país, a China com seu 1,39 bilhão de habitantes, 1/5 da população mundial. Ao lado da OMS, apoiando-a decisivamente nesse esforço estão organizações de peso como o Banco Mundial e a poderosa revista britânica The Economist. Esta, por meio de sua Unidade de Inteligência (EIU), acaba de divulgar, em setembro de 2014, os resultados de um dos mais amplos estudos feitos sobre o setor saúde de um país: o China Healthy Province Index (CHPI), como um instrumento para subsidiar homens de negócio e planejadores de política para estabelecer a dinâmica da oferta e da procura de cuidados de saúde nas 31 províncias chinesas e no país como um todo.

O índice tem quatro componentes: estado de saúde, percepção, resultados e finanças do setor saúde, chegando a um total de 22 indicadores com valores variando de 0 a 100 segundo metodologia própria da EIU.

O Site Mundo Século XXI apresenta, a seguir, uma síntese dos principais achados do estudo. Para acessar todo o sumário em inglês basta clicar, ao final deste post, na seta do “slide share”. Sugere-se, ainda, que os interessados consultem The Economist – Intelligence Unit Healthcare, ou contatem a Chee Hew, Head of Greater China EIU Healthcare pelo email vbh@eiu.com.

CHPI – Principais resultados e análises comparativas

  • O governo chinês decidiu abrir parcialmente o setor saúde para investimentos da iniciativa privada e desde 2012 empresas de Hong Kong e Taiwan  foram autorizadas a estabelecer-se no pais.
  • Progressos relevantes foram feitos nas últimas duas décadas e os percentuais de cobertura com vacinação de doenças comuns como tétano e sarampo estão entre os mais altos do mundo. A mortalidade infantil é hoje 1/3 da anotada em 1990. A população está vivendo mais: a expectativa de vida ao nascer subiu de 68,3 anos em 1990 para 74,9 anos em 2013.
  • A taxa de urbanização populacional está em constante avanço, chegando a 50% em 2010 com previsão de ultrapassar os 60% na década seguinte. O estilo de vida urbana torna o dia-a-dia mais estressante e sedentário do que no campo, provocando mudanças na dieta com o maikor consumo de alimentos processados e carnes, além de expor as pessoas a uma pior qualidade do ar e à poluição da água, em geral favorecendo a prevalência de doenças não transmissíveis como diabetes e câncer, ademais de elevar as taxas de doenças mentais.
  • A população está envelhecendo rapidamente com o grupo com 65 anos e mais representando 9,7% do total em 2013 (era 5,6% em 1990).
  • A vigilância relativa a doenças infecciosas foi reforçada desde 2003 quando ocorreu o surto epidêmico de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), devido em parte a precárias condições sanitárias e à falta de cobertura regular pelos serviços de saúde.
  • A proporção de pessoas cobertas por algum tipo de seguro saúde chegou a 96% em função da campanha oficial nesse sentido lançada recentemente. Contudo, as pessoas “seguradas” ainda precisam assumir 60% dos custos em atendimentos clínicos e 50% para hospitalizações. Permanece a prática comum de pagamento por fora para os médicos, o conhecido “envelope vermelho” passado por baixo da mesa. Eventuais benefícios estão condicionados ao hukou de cada um, ou seja, ao lugar onde se registrou no plano de saúde.
  • Os gastos com saúde foram de apenas 5,4% do PIB em 2012, bem baixo dos 10% na média das economias desenvolvidas e dos 18% dos Estados Unidos. Estimativas da EIU são de que a soma de dispêndios públicos e privados resulta num gasto per capita de US$ 284 na China, frente a US$ 414 na Ásia e US$ 892 na América Latina.
  • Em princípio, a China conta com uma boa infraestrutura pública na área de saúde, com cerca de 1,5 médicos por 1.000 habitantes em 2011, aproximadamente o mesmo padrão que em Hong Kong e na Coréia do Sul, além de superar as taxas do Brasil (1,3) e da Índia (0,6). O país aumentou significativamente sua oferta de leitos hospitalares desde a epidemia da SARS e agora conta com 2,6 leitos por 1.000 habitantes, o que o coloca num ponto intermediário entre Canadá (2,1) e EUA (2,9).
  • Contudo, a oferta é desigual, com a persistência de disparidades entre os programas em diferentes regiões e entre serviços urbanos e rurais. Profissionais recém formados desejam trabalhar em áreas urbanas e os que atuam no campo em geral estão menos capacitados. Pacientes tendem a buscar cuidados nos grandes hospitais, o que exacerba as diferenças entre grandes e pequenas cidades.
  • A incidência de problemas devido ao stress é crescente, à medida em que a frustração popular em relação aos custos e ao acesso a cuidados de saúde se expressa em incidentes e em agressões contra profissionais da equipe de saúde que são divulgados pela mídia. De acordo com o jornal China Daily o índice de disputas (reclamações) contra os médicos tem aumentado 23% ao ano desde 2002. As reformas em implementação para corrigir essa realidade, referente a preços e cobertura, necessitam de tempo para se tornarem efetivas.

Considerando as 31 províncias, o melhor quadro em termos de saúde pertence à capital Pequim (índice relativo 100), seguida por Shangai (79), Zhejfiang (75) e Qinghian (73).

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