Síria: uma nova Somália?

junho 09, 2014.

À medida em que a guerra civil na Síria se prolonga sem solução à vista, analistas como Lakhdar Brahimi – após demitir-se de suas funções  como mediador das uma vez mais fracassadas negociações de paz realizadas na semana passada em Genebra – consideram que os combates ao invés de caminharem para um cessar-fogo estão se agravando, colocando toda a região em sério risco de explodir numa guerra sem fronteiras. Numa entrevista publicada pela revista alemã Der Spiegel no último fim de semana e reproduzida nas páginas do The Guardian, Brahimi diagnosticou que a Síria está se transformando num estado falido à exemplo da Somália. Desde março de 2011 quando começaram os protestos contrários ao regime de Bashar al-Assad, 160 mil pessoas perderam a vida no conflito. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Brahimi, um ex-diplomata argelino e funcionário da ONU, disse que muitos países se enganam ao esperar que Assad queira a paz. Na verdade a guerra civil já envolve, de um lado, as monarquias sunitas do Golfo e a Turquia apóiam os rebeldes e os jihadistas externos e, de outro lado, xiitas do Irã, Iraque e do hezbollah libanês dão sustentação ao regime de Assad. Ao mesmo tempo na ONU os esforços seguem bloqueados seja pela divisão entre as principais potências ocidentais, seja pelo bloqueio de Rússia e China.

A situação é pior do que no Afeganistão à época do 11 de setembro de 1911 e do que a Somália atual que ao invés de dividir-se como muitos previam afundou-se na barbárie tornando-se um estado falido com senhores da guerra assumindo os papéis mais preponderantes. As forças de Assad se impõem nas regiões centrais do país, mas as províncias do norte e do leste são controladas por centenas de brigadas rebeldes que incluem poderosos grupos islâmicos.

Os esforços de Brahimi centraram-se na tentativa de persuadir Estados Unidos e Rússia a sentarem-se numa mesma sala em Genebra, o que aconteceu mas com resultados nulos. Nenhuma das partes convenceu seus aliados a participarem das negociações com seriedade e na verdade ambos gastaram o precioso tempo em que estiveram juntos “screaming and kicking” (gritando e brigando). Segundo ele, os representantes do governo sírio foram a Genebra para agradar a Moscou, acreditando que estavam ganhando a guerra militarmente e na verdade chegaram à mesa de discussões totalmente despreparados. Já a Arábia Saudita e o Irã, os mais poderosos estados de uma região dividida entre sunitas e xiitas, ao invés de tentarem ajudar ao povo sírio e a seus vizinhos, tratavam de ver como melhor ajudar seus aliados. Os sauditas recusaram até mesmo um encontro com o negociador da ONU, tornando praticamente impossíveis quaisquer tentativas de consenso e menos ainda a viabilização de concessões lado a lado.

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