Ucrânia, novo palco para a guerra fria

fevereiro 16, 2014.

[dropcaps]   [dropcaps] Metade da Ucrânia é russa, metade é pró-Ocidente. Para os ucranianos, assumir, enfim, uma identidade nacional que respeite as diferenças de opinião entre seus nacionais, é uma missão cada vez mais essencial e da qual depende a própria sobrevivência da nação.  Revivendo os tempos da guerra fria, Putin e a União Européia (UE) digladiam-se na disputa pela preferência de líderes como Victor Yanukovich – hoje Presidente da República e Yulia Timoschenko, a líder da revolução laranja que sacudiu o país em 2004 e hoje está na cadeia.Ukraine Catherine Ashton, a Alta Representante de Política Exterior e Segurança Comum da União Européia, declarou que a União Européia e os Estados Unidos preparam um [/dropcaps] pacote de ajuda financeira e um Acordo de Associação e Livre Comércio que na prática elevaria de imediato em 6% o PIB do país. Por seu lado, Vladimir Putin acena com um macroempréstimo e com a redução no preço do gás, aliviando com isso o principal fator de dependência econômica em relação à Rússia. Diante da negativa de Yanukovych em firmar o acordo que viabilizaria a entrada da Ucrânia na UE, a oposição tomou as ruas da capital, Kiev e, apesar da posição acomodatícia de líderes da oposição tradicional como Vitali Klitschkó do partido UDAR (uma espécie de PSDB ucraniano), o grupo “Causa Justa” ocupou as sedes dos Ministérios da Justiça e da Política Agrária e diversos prédios públicos, bloqueando as principais vias de trânsito com barricadas de pneus e sacos de neves que incluíram inovativas figurações como a instalação de um WC dourado no lugar da até então fulgurante estatua de Lênin ou da inundação da Praça da Independência, em pleno centro da cidade, com os sons de um piano estrategicamente instalado no coração dos protestos. No auge do movimento cuja reivindicação principal tem sido a renúncia de Yanukovitch, ouviu-se o discurso de um dos mais odiados adversários do Kremlin, o ex-presidente da Geórgia Mijail Saaskahvilli (liderou a fracassada guerra de seu país contra a Rússia na Ossétia do Sul), que declarou: “se os povos da Ucrânia, Moldávia, Geórgia e Azerbaijão que aspiram integrar-se à Europa não se unem, serão pisoteados por Putin”. A trégua, afinal obtida e que permitiu a desocupação dos prédios públicos, se deve em parte ao receio de que o Exército nacional – que por lei não pode imiscuir-se em conflitos internos – decida intervir para impor a ordem, o que seria feito seguramente em benefício do governo. O decreto de anistia a todos os envolvidos no conflito não foi aceito pelos opositores, pois os considerava como “criminosos perdoados” e não como cidadãos. Por detrás das forças de segurança do governo pró-Moscou estão centenas de agentes russos, o que obrigou o líder do Causa Justa, Alexandr Daniluik, diante da possibilidade iminente de ser detido pelas forças da ordem ucraniana, a fugir do país, atravessando a pé a fronteira até chegar a Londres de onde espera seguir coordenando o grupo. De acordo com observadores locais do jornal britânico The Guardian, não obstante as afirmativas das autoridades de Moscou de que os protestos do movimento denominado de Euromaidan estavam sendo organizados com apoio internacional, o seu caráter espontâneo e de admirável criatividade popular parece predominar, o que inclui a construção em questão de minutos de barreiras de até cinco metros com sacos de neve que se tornam um bloqueio impenetrável até para os tanques oficiais. Enquanto isso, a ex-primeira ministra Yulia Timoshenko começou seu terceiro ano na prisão, onde deve cumprir uma sentença de sete anos por pretenso abuso de poder em um acordo de importação de gás russo. Protestos internacionais que consideram o julgamento uma peça puramente política não têm sido ouvidos. Desafiando o poder até aqui absoluto de Yanukovitch, o partido Batkinshchyna (União de Todos os Ucranianos) lançou o nome de Yulia como candidata nas eleições presidenciais de 2015. A tática atual do governo é de deixar o tempo passar, à espera de que seus adversários fiquem cansados e desistam de viver sob barracas nas calçadas e ruas de Kiev e de que, com o final do inverno, o gelo se derreta fazendo murchar as barricadas. Contudo, nem o Ministério da Defesa que controla as Forças Armadas nacionais nem o Ministério do Interior ao qual está afeta a Polícia, declaram-se satisfeitos com o caos e com a iminente possibilidade de uma escalada nos conflitos, o que levaria o país a uma revolução civil de conseqüências imprevisíveis. (Imagem: Piano em plena Praça da Independência anima a oposição. Foto de Sergey Datzhenko/EPA/The Guardian), [/dropcaps]

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