A educação é asiática

fevereiro 15, 2014.

A semana foi marcada pela divulgação de dois importantes indicadores que permitem a comparação entre cada país e a realidade internacional. De acordo com o Índice de Percepção da Corrupção produzido pela ONG Transparência Internacional (TI) o Brasil, em 72º lugar dentre 176 países, obteve minguados 42 pontos numa escala de 0 a 100, com a consolação de ter superado – à exceção da África do Sul com a qual se igualou – os demais integrantes do grupo dos BRIC (China 40, Índia 36 e Rússia 28 pontos). Apesar do julgamento do Mensalão e de ter a quarta maior população carcerária do mundo com 550 mil presos, o país caiu três posições em relação ao ano anterior. Para o mexicano Alejandro Salas, diretor para as Américas da TI, “o Brasil é hoje o maior adversário de si mesmo, precisando demonstrar que a justiça funciona e que as leis são cumpridas.”

[caption id="attachment_541" align="alignleft" width="469"]Çogo da OECD (Org. para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para divulgação do PISA Logo da OECD (Org. para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para divulgação do PISA[/caption]

De ainda maior impacto prático, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (conhecido pela sigla PISA em inglês) da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – OCDE –, após computar os resultados das provas feitas por mais de meio milhão de adolescentes de 15 anos de idade de 65 nações (onde reside mais de 80% da população mundial), concluiu que o Brasil é o 57º classificado com 402 pontos. Conseguiram pontuação ainda inferior à brasileira a Jordânia, Tunísia, Argentina, Albânia, Colômbia, Indonésia, Qatar e Peru. Altamente respeitado em todo o mundo, o programa mede o que sabem os estudantes e o que poderão fazer com seus conhecimentos, mostrando quais os sistemas educacionais mais exitosos e, portanto, com maior potencial de contribuição para o futuro de seus países. Além das questões principais abrangendo três áreas temáticas – matemática, ciências e leitura – as provas enfatizaram a capacidade em resolver problemas e a compreensão de aspectos financeiros. O Vietnã que pela primeira vez participou obteve notas superiores às dos alunos norte-americanos em ciências e matemática, o que levou o Secretário de Educação dos EUA, Arne Duncan, a descrever 2012 como um ano de paralisação educacional no país. Jan Bjorklund, ministro da educação da Suécia, insatisfeito com a queda para a 33ª. posição no ranking geral declarou que o resultado do PISA representa “o prego final no caixão da velha reforma escolar”. Não obstante, o sistema sueco de ensino, baseado nas escolas livres, é comumente referido como um dos mais competentes do universo e três anos atrás serviu de modelo para a reformulação do sistema britânico que, por sinal, também não foi bem avaliado no PISA (o Reino Unido ficou em 19º e os EUA em 26º). Os seis primeiros lugares couberam à Ásia. A megacidade de Xangai com 23,9 milhões de habitantes, representando a China comunista, uma vez mais situou-se em 1º lugar com média geral de 588 pontos, seguida por Cingapura, Hong Kong, Coréia do Sul, Japão e Formosa. Completaram os dez primeiros a Finlândia, Estônia, Liechtenstein e Macau. A reputação das escolas chinesas é bem conhecida e o país tem uma longa tradição de respeito pela área educacional, com os pais exigindo um elevado desempenho escolar de seus filhos e os professores reservando a cada ano 1/3 de seu tempo para aperfeiçoamento profissional. Contudo, o jornal londrino The Guardian comentou que a China não é apenas Xangai, de modo que o resultado reflete mais a ambição chinesa do que sua realidade global, observando que as autoridades nacionais não liberaram os escores de outras doze províncias consideradas pela OCDE. A América Latina em conjunto teve desempenho péssimo com os oito países incluídos situando-se nos últimos postos do ranking. Mesmo o Uruguai (3º na região atrás de Chile e México e 49º no total) referiu o ano passado como muito negativo para a educação pública devido a greves docentes e altas proporções de repetentes nos colégios secundários. Não se sabe de reclamações quanto a uma eventual complexidade dos testes. Veja estes exemplos e conclua se jovens de 15 anos seus conhecidos conseguiriam respondê-las corretamente: I) “O Monte Fuji está aberto para escaladas pelo público somente de 1º de julho a 27 de agosto de cada ano. Cerca de 200.000 pessoas sobem durante esse período. Em média, quantas pessoas sobem o Monte Fuji a cada dia? Opções: a. 340 – b. 710 – c. 3.400 – d. 7.100 – e. 7.400; II) a rota Gotemba para subida do Monte Fuji tem 9km. Os visitantes necessitam retornar da caminhada de 18 km até as 20 horas. Toshi estima que ele pode andar a 1,5 km por hora na subida e o dobro dessa velocidade na descida, já incluindo paradas para alimentar-se e descansar. Com base na velocidade estimada por Toshi, qual é a última hora em que ele deve iniciar a caminhada para que possa retornar às 20 horas?” (Respostas: C – 11 horas). No caso do Brasil o agravante principal é a forte concentração de respostas nos níveis inferiores de complexidade. No nível 1 (tido como inaceitável) ou abaixo dele situaram-se 49,2% das respostas  em leitura, 77,1% em matemática e 53,7% em ciências. O nível 6, o mais elevado e estratégico como grande reservatório de capital humano e de potencial de solução dos problemas mais complexos da nossa sociedade, como afirma a professora Ilona Becskeházy em artigo para o Estadão, foi atingido por somente 0,5% dos brasileiros. Tomando por base os cálculos da OCDE de que 65 pontos correspondem a 1,5 anos de aprendizado, o Brasil tem 4 anos de desvantagem em relação ao topo da lista., Segundo a opinião de Juan Pablo Valenzuela do Centro de Estudos Avançados da Universidade do Chile em entrevista à revista Semana, o Brasil precisaria mais de quarenta anos para eliminar esta brecha. Para o ministro da Educação Aloizio Mercadante, comemorando os avanços em matemática, se computássemos só os resultados das escolas federais estaríamos no mesmo patamar de Itália e Espanha, um raciocínio que ignora o fato de que o mesmo procedimento poderia ser adotado por esses países. Pode-se concluir que muito dificilmente a meta constante do Plano Nacional de Educação – 473 pontos no PISA até 2021 – será atingida, mesmo porque na avaliação do desempenho atual dos estados o melhor (Espírito Santo) fez 423 pontos e o pior (Alagoas) escassos 348. (Imagem: Shanghai - PISA Pupils. Eles não são gênios. São, apenas, máquinas de estudar. In: www.telegraph.co.uk)

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