Eleições 2014 até na Bolívia

janeiro 31, 2014.

A temporada de caça a eleitores já começou para os políticos latino-americanos. Não importa se com cartas marcadas ou não, o fato é que a realização de pleitos ditos universais (ou limitados a votantes do partido no poder como na Ilha) para o Executivo e o Legislativo passaram a se constituir na face aparente dos regimes mais ou menos democráticos no continente. Além do início das administrações de Peña Nieto que no México traz de volta o PRI e da socialista Michelle Bachelet no Chile, a presidência mudará de mãos em sete países, começando em 2 de fevereiro por El Salvador e Costa Rica, os dois com forte perspectiva de um 2º turno em seguida.

A Frente Farabundo Marti para la Liberación Nacional – FMLN, partido originário da guerra salvadorenha dos anos oitenta, está no governo com Mauricio Funes (sua esposa é a brasileira Vanda Pignato, representante do PT na região) que fez uma administração aberta e é o mais popular dos governantes centro-americanos. Recusou-se a entrar para o bloco bolivariano da ALBA e procurou aproximar-se da Aliança para o Pacífico onde estão Chile, Colômbia, México e Peru. A esquerda mais ideológica não gostou e agora apresenta como candidato o atual vice, Salvador Sánchez Cerén que não deslancha. Tem 35% da preferência eleitoral, contra 32% do dentista e ex-prefeito de San Salvador, José Norman Quijano da Arena, que conseguiu unir toda a direita tradicional em torno do seu nome. O grande problema é o tráfico de drogas. Funes negociou desde 2012 uma trégua com os líderes das duas maiores quadrilhas do país – Mara Salvatrucha e Calle 18 (M13 e M18) -, presos na prisão de segurança máxima Zacatecoluca, mas neste começo de ano elas voltaram a atacar policiais e soldados. Em 14 de abril último El Salvador comemorou o 1º dia sem homicídios num período de três anos.

Após duas administrações social-democratas Costa Rica tem três concorrentes em virtual empate técnico: Johnny Araya do situacionista Partido de Liberação Nacional (PLN) com 22,2% das intenções de voto; José Maria Villalta da Frente Ampla de esquerda com 20,3% e Otto Guevara do Movimento Libertário de direita com 20,2%. Caso ninguém obtenha 40% dos votos válidos, haverá 2º turno. Tentando evitar um terceiro mandato do PLN, a esquerda, que tem penetração na juventude (1/3 do eleitorado), propõe revitalizar o papel do setor público e ampliar direitos de gays, lésbicas e transexuais, enquanto Guevara quer um Estado mais eficiente e competitivo. O país mantém a tradição de neutralidade desde que aboliu o Exército em 1948, mas a proximidade com Cuba e Estados Unidos, assim como a pressão dos venezuelanos tem presença ativa nos debates pré-eleitorais.

[caption id="attachment_748" align="alignleft" width="300"]Evo Morales, de novo favorito para novembro Evo Morales, de novo favorito para novembro[/caption]

Na Colômbia, onde o pleito legislativo é em março e o presidencial em 25 de abril, não devem ocorrer mudanças de rumo. O favoritismo é do neoliberal Juan Manuel Santos que deseja a reeleição. Tem mais de 20 pontos percentuais de vantagem frente ao uribista Óscar Zuluaga e a Clara López do esquerdista moderado Pólo Democrático.  A proposta de realizar um referendo de aprovação (ou não) dos termos do Acordo de Paz com as Farc, em discussão em Havana, não tem chance pelo curto prazo disponível. O prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, destituído pelo Procurador Geral da Nação, resiste no posto e se aproxima do Partido dos Indignados ou Partido do Tomate, formado por jovens que num movimento similar às marchas de junho no Brasil, ganharam fama jogando os frutos contra símbolos dos poderes constituídos e colhem assinaturas populares para concorrer, o que também parece inviável.

Em maio (dia 4) chega a vez do Panamá escolher o novo ocupante do Palácio das Garças, provavelmente José Domingo Arias do governante Cambio Democrático que nas pesquisas tem 39% de apoio. No fundo, nada deve mudar, mas se à última hora as oposições se unirem podem vencer ou com Juan Carlos Navarro do PRD, social-democrata ou com Juan Carlos Varela, liberal de direita do Partido Panamenhista. Há, ainda, a hipótese mais remota de o atual presidente Ricardo Martinelli, cuja gestão tem índices elevados de apoio, virar a mesa e aprovar no Congresso a reeleição, hoje vetada.

O Brasil, transformado, segundo Miguel Bastenier do El País, num feudo do Partido dos Trabalhadores e sem oposição visível, deve reeleger Dilma Rousseff sem maiores problemas em outubro. Nem mesmo as condenações de parte da alta cúpula do partido no processo do Mensalão ou a rejeição popular expressa nas marchas de rua de junho de 2013 foram suficientes para ameaçar o quarto mandato consecutivo do grupo comandado por Lula da Silva.

O Uruguai (1º turno em 26/10 e 2º em 30/11) apenas aguarda o retorno de Tabaré Vasquez à presidência, substituindo a José Mujica, ambos da Frente Ampla. Com chances mínimas estão os candidatos dos tradicionais Partidos Nacional e Colorado (governou mais de cem anos até desabar com mínima votação em 2004) ou dos Independentes. Por lei haverá um pleito interno de cada Partido em 1º de junho para escolher oficialmente o respectivo candidato.

Por fim as eleições bolivianas previstas para dezembro foram antecipadas para 5 de outubro, mal dando tempo às oposições para improvisar o governador de Santa Cruz, Rubens Costas, como uma alternativa a Evo Morales que concorre pela terceira vez. A Constituição do país proíbe uma segunda reeleição, mas Evo renunciou quase ao final do primeiro mandato com o que, segundo ele, o calendário eleitoral recomeçou do zero. O mandato é de 5 anos e, depois, o Movimento ao Socialismo – MAS tentará de novo aprovar a reeleição ad eternum do seu chefe.

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